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02 julho 2008

Carta-compromisso

Comer feijoada e depois tomar café com adoçante não é só coisa de gordo. É também de político. Ao menos na metáfora. Ontem, o vereador petista André Passos reuniu-se com os candidatos do partido que disputam uma cadeira na Câmara e propôs uma carta-compromisso.
Aquele que for eleito reverterá a uma instituição de caridade a diferença entre o reajuste salarial dos vereadores aprovado pela Casa – 29% – e aquele proposto pela bancada petista – 25,06% – que é o mesmo do funcionalismo municipal.
Em números: pela lei aprovada na Câmara, o vencimento dos parlamentares salta, na próxima legislatura, de R$ 7,1 mil para R$ 9,2 mil. No cálculo do PT são menos 300 mangos ou R$ 8,9 mil. Não estivesse a credibilidade dos parlamentares “em alta” e a tunga seria indisfarçável.
Mas vamos lá. Se é mesmo o caso de comer a feijoada e tomar o Adocil, que denominarei aqui Hipocrisil para evitar o merchandising, inclua-se um desafio.
Para cortar as “gordurinhas”, como quer o nobre vereador André Passos que, dizem por aí, deixa a Câmara no fim do ano para assumir cargo lustroso na Itaipu Binacional com salário em dólares, não é melhor radicalizar?
Que valha o seguinte: na carta-compromisso, os vereadores eleitos pelo PT não devolvem apenas os 300 mangos, mas abdicam do reajuste integralmente.
Assim mantêm os ganhos de R$ 7,1 mil, que continua a ser um baita salário, e devolvem a diferença aos cofres públicos, que esse negócio de instituição de caridade é conversa para boi dormir.
No mesmo dia em que o projeto de reajuste seria votado na Câmara, o vereador petista Pedro Paulo Costa deu entrevista à Bandnews, minimizando o reajuste concedido aos vereadores e apontando o dedo para os vencimentos do novo prefeito de Curitiba. Fez mais. Em ato falho, vá lá, disse que o beneficiado seria Beto Richa. Pobre Gleisi Hoffmann…
Horas mais tarde, com a quizumba armada, Pedro Paulo encarregou-se de rever seus conceitos e propôs então, democraticamente, o mesmo reajuste concedido ao servidor municipal na somatória de quatro anos.
No auge do mensalão, o presidente Lula foi informado da acusação que pesava contra o deputado federal Professor Luizinho (PT-SP), que teria sacado R$ 20 mil da boca do caixa. Seu comentário virou frase célebre: “É uma merreca”. Trezentos mangos também.
Se os candidatos do PT se propõem a assinar uma carta-compromisso, ora ora, devolvam então o reajuste de R$ 2,1 mil. O resto é aquilo mesmo: dez ou quinze gotas de Hipocrisil.

Texto do blog de Marcus Vinícius.

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