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04 maio 2009

INDECENTE

De Clóvis Rossi, na Folha de São Paulo

É indecente e aética a defesa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz do uso de passagens aéreas pelos deputados. Defender privilégios é sempre indecente e aético. E as passagens aéreas são apenas um dos elementos que compõem o elenco de privilégios dos pais da pátria. O fato de terem, nesta semana, vedado a transferência dos bilhetes para parentes, amigos e apaniguados é apenas tirar o bode da sala. Ou eliminar um abuso com o privilégio, mas não o privilégio.

Afinal, toda pessoa, física ou jurídica, que tenha assuntos a tratar em Brasília paga a passagem do próprio bolso. Congressistas pagam com o meu, o seu, o nosso bolso -e o presidente bate palmas, até porque não tem autoridade moral para criticar, porque confessa ter usado e abusado de idêntico privilégio, mesmo no tempo em que achava que a grande maioria do Congresso era formada por “picaretas”.

Indecente e aética, a defesa que Lula faz do privilégio só não é surpreendente. É prima-irmã da que fez durante o escândalo do mensalão. “Todo mundo faz”, afirmou, então, como agora. E o que é que “todo mundo faz”? É caixa-dois, o único crime confessado pela turma. E o que é caixa-dois? É “coisa de bandido”, na ilustrada opinião de Márcio Thomaz Bastos, então ministro da Justiça de Lula.

Um presidente que dá de ombros para a prática por seus próprios correligionários de “coisa de bandido” não é exatamente o melhor exemplo que alguém possa invocar em matéria de cuidados com o dinheiro público, que é, em último análise, o fundo do debate. Assinante do jornal leia mais em: A louvação da picaretagem.

Texto do blog de Fábio Campana.

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