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30 maio 2011

Juri Popular II



Carlos Kaspchak
Especial para o UOL Notícias

O Tribunal do Júri de Curitiba (PR) condenou, no final da tarde deste sábado (28), Beatriz Abagge, 47, a 21 anos e quatro meses de prisão pelo assassinato do menino Evandro Ramos Caetano, de seis anos, em um ritual de magia negra. O crime, ocorrido em 1992, ficou conhecido como o caso das “Bruxas de Guaratuba” e chocou o país. Ela poderá recorrer da sentença e aguardar o julgamento dos recursos em liberdade.

Os sete jurados decidiram, por 4 a 3, que o crime ocorreu nas dependências da serraria da família Abagge por meio de pagamento e com crueldade. Também consideraram o agravante de ter sido cometido contra menor de 14 anos de idade.

Alívio

Os pais de Evandro Ramos Caetano, Ademir Batista Caetano, 62 anos, e Maria Ramos Caetano, 58 anos, não chegaram a comemorar a decisão. “Foram 19 anos esperando uma decisão, mas não tem como comemorar. O filho da gente não volta mais”, disse Ademir em entrevista ao UOL Notícias. A mãe disse que vai continuar a tocar a vida. “É um alívio, mas a dor não passa. A justiça foi feita”, disse Maria emocionada.

O julgamento durou mais de 31 horas e começou na manhã desta sexta-feira (27) e foi bastante polêmico com trocas de acusações entre os advogados de defesa e os representantes do Ministério Púbico. O tempo todo o plenário do Tribunal do Júri de Curitiba permaneceu lotado a espera de uma decisão para o caso que se arrastou por mais de 19 anos.

Crime triplamente qualificado

O juiz Daniel Surdi Avelar sentenciou Beatriz a 15 anos de reclusão por crime triplamente qualificado e agravou a sentença em mais 6 anos e quatro meses. Por já ter cumprido 5 anos, nove meses e 21 dias de prisão, Beatriz cumprirá o restante da pena em regime semiaberto. “Foi um julgamento tranquilo e altamente técnico”, disse o juiz ao UOL Notícias. Os representantes do Ministério Público não se manifestaram sobre o resultado e a sentença do júri.

“Sou inocente, não cometi crime”

Beatriz Abagge deixou o plenário do Tribunal do Júri visivelmente abalada e tensa. “Sou inocente, não cometi crime algum. Sou vítima, fui torturada”, declarou Beatriz amparada pelo advogado de defesa Adel El Tasse, em frente ao prédio do Tribunal de Justiça de Curitiba.

Ele disse que foi pego de surpresa e que não esperava o resultado. “Houve cerceamento de defesa. Nos negaram a produção de provas, perícias e o juízo foi incompetente”. Celina Abagge também se mostrou indignada. “Não acredito mais na Justiça”.

Clima no Tribunal

O clima no tribunal, antes da divulgação da sentença, era tenso. Um pequeno tumulto deixou todos apreensivos porque Celina Abagge, que também foi acusada do crime, mas que não foi julgada porque tem mais de 70 anos, passou mal e precisou ser atendida por médicos.

Quando o juiz informou a decisão dos jurados e leu a sentença, as pessoas presentes reagiram com incredulidade, principalmente os parentes e amigos da família Abagge. Os pais de Evandro permaneceram imóveis e calados durante quase todo o julgamento.

Caso chocou o país

O caso das “Bruxas de Guaratuba” começou a ser julgado em 1998. Na ocasião, o júri durou 34 dias, considerado o mais longo da história do país, no qual mãe e filha foram absolvidas. O Ministério Público recorreu da decisão e conseguiu a anulação. O novo julgamento só teve início na sexta-feira (27) e terminou neste sábado (28).

O julgamento durou mais de 31 horas e foi bastante polêmico com trocas de acusações entre os advogados de defesa e os representantes do Ministério Púbico. O tempo todo o plenário do Tribunal do Júri de Curitiba permaneceu lotado a espera de uma decisão para o caso que se arrastou por mais de 19 anos.

Tanto Beatriz como Celina Abagge alegam inocência no caso. Os advogados de defesa insistiram na tese de que elas foram torturadas para confessar e que o corpo encontrado não é do menino Evandro. Dois delegados e um perito criminal, que trabalhou no caso na época, confirmaram as teses da defesa nos seus depoimentos. Os promotores desqualificaram as tentativas da defesa e confirmaram a convicção de que as duas foram as mandantes e beneficiárias do crime encomendado para ritual de magia negra.


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